30/01/2012

O que foi visto

Era a inauguração de um espaço cujos donos eram seus amigos. O esplêndido bambu-mossô se estendia pela entrada do local e suas ramificações encantavam de forma surreal todos que ali adentravam. Sentada da mesa onde estava, Rosana observava com todo seu amor por plantas. Chegou mais perto para admirar a beleza daqueles galhos.
Sua adoração apenas se intensificara naquela noite de luar, aguçando seu desejo de ter uma daquelas em sua casa. No jardim sobrava lugar, que estava destinado àquele caule retorcido com seus galhos pairando sobre a sala.
Sentia-se realizada pela proeza de ter um bambu-mossô, mas não era simplesmente mais um dentre tantos outros, era O bambu-mossô, era o seu caule, as suas ramificações, a sua plantinha. E pagou caro por ela, mas naquele momento o preço já não era significativo o suficiente para impedir sua vontade.
A varanda ampla com rutilância foi o destino da planta, que mesmo antes de ser plantada já possuía seu lugar. À medida que seu caule crescia foi-se formando uma sombra sobre o sofá que despensa comparações surrealistas. Os galhos formavam uma cortina contra a claridade excessiva que encobria a visão do real.
Aquele caule firme, retorcido, tocado pela leve brisa provida do exterior, estava ali para enriquecer aquela varanda com uma força e alegria, propiciando um bem estar inigualável. Rosana ficava radiante ao acordar com a visão da sombra, pelo nascer do sol, na alva parede. Ao anoitecer ocorria o que chamamos de parecer. Tornava-se outro ambiente, a sala se transformava num outro lugar, oposto ao que era antes do belo bambu-mossô.
Diante de todo o prazer proporcionado pela planta, aconteceu o que era inevitável, uma manhã ao acordar, Rosana se depara com a secura do caule e a perda das folhas que não mais formavam uma cortina. Havia apenas dois meses que ele viera alegrar aquela casa e já tão cedo havia partido. Triste fim destinado a quem tanto contentamento soube proporcionar.  Ainda assim, com os galhos secos e sem vida, o esqueleto da planta continuou no mesmo lugar.
Há muitas plantas lindas no mundo, e aquele bambu-mossô não seria o mais lindo. É algo mais que se impõe com certeza absoluta, com todo o ímpeto de quem tem razão.
E ele estava da cor da estação, logo seria outono e o mundo inteiro estaria marrom. A aparência exótica se acentuara com o tom e o formato que ainda possuía o velho caule. A beleza não estava apenas no novo e atraente.
No escuro da noite com a claridade do luar, a parede parecia o céu estrelado de Van Gogh. Noite Estrelada. Formas alvas e brandas e claras emergiam junto ao desabrochar do sol na manhã que se seguia. O mundo não foi feito para algo tão bonito. 06/10/2011
Há agora a iminência de luz e sinto a chuva tocar-me delicadamente, como a me fornecer não só a vida, mas carinho também.
Minha produção fotossintética diminui gradativamente. Necessito de água, mas não clamo. Sou inundada pela existência. O vento, conseqüências das lágrimas que do céu caem, sopra em meu corpo a fria brisa que, de leve, me arrepia.
Preciso de oxigênio, assim como todos. Muda em meu lugar, ouço o som do silêncio constantemente. Portas batendo, conversas paralelas, folhas sendo arrastadas, passos apresados.  Até mesmo as respirações não sincronizadas, já passei a diferenciar.
Reconheço quem vem até mim com afeto, mas não sou capaz de retribuir a meu modo. Meu afeto é sutil e milagroso. Sou um reflexo do meu mundo. Sou um reflexo da minha volta. Sou um reflexo de quem me cuida.
Pessoas que vivem e são pela metade, não vem até mim. Não sou compreendida, exceto pelos inteiros; por quem não teme o próprio medo de existir por inteiro.
Minha vaidade cresce quando sou admirada. Quando ganho colo e sou acolhida minha cor se renova, meu brilho reluz e sinto que existo. Ainda tenho esperanças de que está próximo o dia em que eu e todos os meus semelhantes seremos, devidamente, notados.
Sou o que querem e necessitam que eu seja. Respondo a todos que comigo conversam. Sou o você. Sou o eu. Sou o “nós” que é você. Sou o “nós” que há em você. Em troca do amor devolvo a alma. Somos silenciosos.
O mundo é cheio de pessoas pela metade que não notam nossas semelhanças. Somos tal e qual.
Podemos ouvir os silêncios e ainda assim compreendê-los. Podemos fazer sombra e tapar claridades. Necessitamos de cuidados, de regas, de atenção, que nem sempre pedimos, apenas recebemos, por amor.
Tudo o que ofereço é por gratidão a você que me faz viver. Incessantemente devolvo o que recebo. Não é preciso o grito; por que as pessoas gritam? Basta que ouçam o som do silêncio. Basta serem inteiros, mesmo que instantes.
A chuva cessa e o vento começa a secar meu corpo. Sinto algo em mim. Uma borboleta. Veio dar-me boa noite, pois já é hora de ir dormir. Amanhã outro dia recomeça e o oxigênio que consumo, eu passarei a devolver.
Quando atingir meu ponto fótico não precisarei de ajuda. Consumirei o que eu produzir, na mesma quantidade. É meu momento de liberdade e independência. Depois recomeço meu ciclo de plantinha e reedito o que vejo a cada dia. 25/10/2011
Em meio a números, fórmulas e colegas resolvendo problemas, encontrando soluções matemáticas, atrás de duas amigas, que juntas solucionam qualquer exercício, ali está ela. Deitada em cima do caderno aberto, com alguma cousa rabiscada entre as páginas inexploradas.
Ela houve a voz dos colegas ditando as respostas, conversando, discutindo as possibilidades de resoluções, mas permanece estática sobre o caderno. Vários pensamentos tumultuam sua mente numa enxurrada de palavras e vozes. Sua vontade é desprezível em meio à insegurança e o temor. Lágrimas rolam de seu rosto a cada aula.
De cabeça baixa e os olhos fechados, tudo que mais deseja é ir embora daquele lugar que não é o seu, do meio daquela gente que não é ela. Que não é pra ela. Que não é dela. Olhando ao redor vêem-se todos empenhados em aprender, tentando, conseguindo, superando, e ela, ela movida pela inércia de seu corpo. Sempre. Tentar não é com ela. Não é pra ela. Não gosta de matemática, odeia os números, criou um bloqueio para isso e não há o que se possa fazer para ajudá-la. Sim, ela pode se ajudar, mais ninguém. Com ela é pelos extremos.
Sem que perceba, sente-se o centro do universo, para onde os telescópios estão com suas lentes voltadas. Todos à espera de um brilho, uma luz, um sinal de bio. A qualquer movimento seu, espera que estejam prontos para socorrê-la, que estejam à sua disposição. É frágil, tem medo de caminhar sozinha e não agüentar, tem medo de que as coisas dependam somente dela. E assim ela continua negando qualquer possibilidade de melhora. Lutando contra todas as chances.
Ela quer sentir-se única, procura em cada olhar um espaço que não encontra, um pedaço que não é o seu. Procurar nos outros o que ela não encontra nela mesma? Não, tudo o que precisamos encontrar está em nós. A procura é IN, é dentro. Mas ela não acredita, não vê.
Sua amiga tenta dizer-lhe tudo o que precisa, tenta lhe ensinar, e ainda assim, nem um sinal de tentativa. Ela diz não conseguir, não poder. Diz ser difícil encontrar soluções quando ela mesma está desencontrada. Diz sentir-se deslocada quando todos estão fazendo exercícios na aula de matemática e ela não sabe nem por onde se passa a matéria. Sente-se uma fracassada, inútil, incapaz de qualquer tentativa de progressão.
Onde estará sua salvação? Meu Deus, onde estão os olhos dessa menina? Que carne doída!
Depois de tanta coisa, depois de tudo que ela já ouviu de sua amiga, depois de todas essas experiências doloridas, como não se pode aprender? Como não se pode progredir? Como regredir ,dessa forma, cada vez mais? Quando é que ela vai se achar? Quando o tormento terá fim?
Seu corpo é só desespero, seus pensamentos vagam cada vez mais longe da realidade, suas atitudes são de quem está perdido, de quem procura uma saída na porta errada. De que adianta sua amiga lhe mostrar as portas, dar-lhe dicas de qual é a que se deve abrir, indicar-lhe a rota a seguir, se ela teima em ir pelo caminho errado, se ela teima em não acreditar, se ela dá ouvidos a quem nada sabe, a quem (em cinco, seis anos?) não conseguiu fazê-la sentir-se melhor?
As pessoas a sua volta não podem mais ajudá-la, nada poderá fazê-la sentir-se bem. Nothing. Está tudo errado. Everything. Ela necessita de uma reviravolta em sua vida, necessita de novos ares, novas pessoas, novas sensações e novos amigos....Necessita acima de tudo, dela mesma. Inteira. Sem metades. Ela precisa de inteiros, de eternos, de incondicionais. Não vai encontrar. Não vai melhorar. Não vai se achar. Vai continuar no meio do tiroteio. 12/09/2011
“21:21” Grita a minha voz quase rouca dentro de mim. Um grito que só eu ouso escutar.  Ando com saudade de escrever, ando lembrando das noites em claro digitando palavra por palavra frente ao silêncio. Ando me vendo escrever. Pensamentos. Não, não ando escrevendo, parece até que sou uma estranha agora. Por que essa falta de vontade? Acho que não seja a falta, mas a ausência. É. Ausência. Ando ausente de mim. Tou com saudade de mim. De você. Dela. De nós.  Você não vai vir falar comigo? Acho que tou ficando preocupada com a sua demora. Acostumei com sua presença e não sei se acostumo com sua falta. Ou sua ausência? As duas são tanto quanto tristes e dolorosas. Não queria passar por isso, dói tanto aqui dentro de mim, você não tem noção... Um medo junto com saudade precoce. Medo de voltar a ser o que era antes de você. O que era antes de você? Não era. Não havia antes, assim como não haverá depois. Não quero sentir você se afastar, você faz tanta falta. Falta, porque estás a me acompanhar? Falarei de você a meus filhos, sim, eu falarei, porque você foi importante para mim, ainda é. Não quero me acostumar sem você. E as manhãs, as voltas, as idas, como ficam? Sós?  Não hei de colocar outra em seu lugar, porque ele é seu.. Sempre será seu, mesmo que não esteja aqui, porque eu sei, estar perto não é físico e você vai estar comigo onde quer que eu vá. Porra, eu já estou sentindo sua ausência antes mesmo dela chegar. Isso dói tanto. Parecem que estão arrancando uma parte de mim. Talvez não seja para sempre, talvez nos cruzemos na próxima esquina novamente. Mas o que machuca mais é saber que não será como foi, como é.. Machuca saber que tudo irá mudar, e eu não quero perder espaço na sua vida.. quero estar presente como sempre estive. Mesmo que diga que eu continuarei pra sempre com você, eu acredito, mas é difícil me afastar, porque você é rotina, você é o dia-a-dia e eu não quero que isso mude.. tenho medo das conseqüências. Sei que é apenas uma mudança das muitas que virão, mas é só medo.. porque afinal, amigo é amigo e melhor amigo é melhor amigo.. é medo, apenas medo.. medo de tudo. Medo de ficar sem você e cair sem ter certeza de que vai estar fisicamente ali para me segurar. Eu tou frágil e isso ta mexendo comigo, e só. Você não apareceu ainda e isso me entristece tanto quanto sua presença silenciosa. 14/07/2011
Toda química que nosso corpo precisa, o nosso organismo produz. A procura pelo equilíbrio, a resposta tem-se dentro, não é fora que se vai achá-la. A procura é in.

04/08/2011


Estava na escola, mais precisamente na sala de aula. Todos estavam lá...ou não, reparando bem, a melhor amiga não estava. Por que será? A falta foi sentida. Muitos falavam sobre ela, mas o que eles estavam falando que ela não conseguia captar com uma freqüência boa para seus ouvidos? Então ela percebeu que não estava mais ali exatamente como todos estavam. Era sua alma quem estava. Mas sim, ela estava ali e podia vê-los. Será que eles acham que ela está morta? Foi subindo as escadas devagar, reparando tudo que estava acontecendo. Os colegas, os risos e em meio a isso um par de olhos fixos nela. Estremeceu e fez um gesto de silêncio para ele, que podia vê-la, como para não avisar que ela estava presente. Em vão. Ele gritou que ela estava ali e, imediatamente, alguns ouviram e saíram correndo. Era medo de um espírito? Na frente da sala estava a outra amiga, sentada no chão, com uma colega. Estavam conversando coisas que ela não entendia; pareciam felizes e sorridentes. Sem saber como, sentiu lágrimas brotando de seus olhos. E soluçava, soluçava intensamente a ponto de não conseguir conter o choro. Outra colega em vinha vindo em sua direção. Ela, então, percebeu que podia ser vista novamente. Essa agora tinha sido sua amiga dês da infância, passaram bons momentos juntas, uns bons 7 anos de suas vidas foram compartilhados uma com a outra, mas o tempo as afastou, trouxe novas amigas, novas pessoas, e elas, não trocavam palavras há um bom tempo. Então sentiu o abraço. Sua amiga de antes a viu chorando e veio abraçá-la, acalmá-la, dizer que existe quem a veja, quem a enxergue. Sorriu, mas ainda assim continuou a chorar. Olhou para os lados e as pessoas tinham voltado para a sala, um outro colega de infância estava olhando para os duas e sorriu, depois continuou a conversar com os amigos. Já era aula de inglês e alguém gritou que ela tinha morrido. A professora fez um gesto de como quem está em uma festa e praticamente gritou “Meus pêsames!” enquanto ria. Novamente sentiu falta da melhor amiga, percebendo que ela realmente não estava lá.  Resolveu descer para o pátio, ver o que mais estava acontecendo. Foi ao banheiro e se olhou no espelho, quase não podia se ver, as lágrimas distorciam a visão. Havia uma menina que parecia ser da quinta série, não conseguiu definir quem era, parou na sua frente ficou a olhá-la. Ela perguntou ainda baixinho se a menina também podia vê-la e obteve como resposta apenas uma afirmação positiva de cabeça. Saindo do banheiro encontrou seu primo, eles se viram e se olharam. Ele a podia ver. Ela o podia ver. Percebeu que ele também estava morto. Como ela. Por que será que não parava de chorar? A amiga de infância veio dar mais um abraço. Já na saída da escola encontrou mais uma velha amiga que estava a observá-la. Sorriu e continuou a andar meio embaraçada. Meio mexida. Meio tudo.
Eles pensam que ela está morta?
Quem podia vê-la tinham sido, quase todos, quem a conhece desde pequena, quem a conheceu antes de se tornar o que é hoje, 14 anos depois. Qual a diferença entre ela antes e depois, antes e agora? Ela mesma diz que antes era mais aberta, mais sorridente, mais extrovertida e sem medos, tudo ao contrário do que ela é hoje. O que isso quer dizer? Que quem a conheceu antes de tudo é quem vê seu verdadeiro eu, é quem a conhece verdadeiramente como ela é? Quem ela é agora não foi reconhecida, então qual será a melhor? A de antes é a melhor. Ela foi reconhecida em seu verdadeiro âmago. Tem-se que colocar as duas, quem ela era antes e quem ela é hoje, numa caixinha, balançar e ver o resultado que vai dar. Talvez seja quem ela esteja procurando, quem ela precisa encontrar pra se achar.
A melhor amiga não estava presente. Vai ver é pra que elas possam aprender a encontrarem outras maneiras para. Tudo que acontecia uma tinha a outra para se apoiar, agora não mais. Terão que buscar outras ajudas, outros modos de continuarem. Vão se acostumar.
Foi um teste que passou. A vida testando o que ela realmente sente, mostrando quem ela tem que ser, mostrando seus medos e dúvidas.

19/06/2011

Se tiver vontade de chorar , chore. Pra que segurar as lágrimas ? Vai te aliviar. Eu acredito em você , eu coloco toda a minha esperança em você. Veja a sua importância .. acredite em você e confie, principalmente, em você mesma. Você é capaz de qualquer coisa. É nos momentos de fraqueza que nos surpreendemos com nossa força.