30/01/2012

Em meio a números, fórmulas e colegas resolvendo problemas, encontrando soluções matemáticas, atrás de duas amigas, que juntas solucionam qualquer exercício, ali está ela. Deitada em cima do caderno aberto, com alguma cousa rabiscada entre as páginas inexploradas.
Ela houve a voz dos colegas ditando as respostas, conversando, discutindo as possibilidades de resoluções, mas permanece estática sobre o caderno. Vários pensamentos tumultuam sua mente numa enxurrada de palavras e vozes. Sua vontade é desprezível em meio à insegurança e o temor. Lágrimas rolam de seu rosto a cada aula.
De cabeça baixa e os olhos fechados, tudo que mais deseja é ir embora daquele lugar que não é o seu, do meio daquela gente que não é ela. Que não é pra ela. Que não é dela. Olhando ao redor vêem-se todos empenhados em aprender, tentando, conseguindo, superando, e ela, ela movida pela inércia de seu corpo. Sempre. Tentar não é com ela. Não é pra ela. Não gosta de matemática, odeia os números, criou um bloqueio para isso e não há o que se possa fazer para ajudá-la. Sim, ela pode se ajudar, mais ninguém. Com ela é pelos extremos.
Sem que perceba, sente-se o centro do universo, para onde os telescópios estão com suas lentes voltadas. Todos à espera de um brilho, uma luz, um sinal de bio. A qualquer movimento seu, espera que estejam prontos para socorrê-la, que estejam à sua disposição. É frágil, tem medo de caminhar sozinha e não agüentar, tem medo de que as coisas dependam somente dela. E assim ela continua negando qualquer possibilidade de melhora. Lutando contra todas as chances.
Ela quer sentir-se única, procura em cada olhar um espaço que não encontra, um pedaço que não é o seu. Procurar nos outros o que ela não encontra nela mesma? Não, tudo o que precisamos encontrar está em nós. A procura é IN, é dentro. Mas ela não acredita, não vê.
Sua amiga tenta dizer-lhe tudo o que precisa, tenta lhe ensinar, e ainda assim, nem um sinal de tentativa. Ela diz não conseguir, não poder. Diz ser difícil encontrar soluções quando ela mesma está desencontrada. Diz sentir-se deslocada quando todos estão fazendo exercícios na aula de matemática e ela não sabe nem por onde se passa a matéria. Sente-se uma fracassada, inútil, incapaz de qualquer tentativa de progressão.
Onde estará sua salvação? Meu Deus, onde estão os olhos dessa menina? Que carne doída!
Depois de tanta coisa, depois de tudo que ela já ouviu de sua amiga, depois de todas essas experiências doloridas, como não se pode aprender? Como não se pode progredir? Como regredir ,dessa forma, cada vez mais? Quando é que ela vai se achar? Quando o tormento terá fim?
Seu corpo é só desespero, seus pensamentos vagam cada vez mais longe da realidade, suas atitudes são de quem está perdido, de quem procura uma saída na porta errada. De que adianta sua amiga lhe mostrar as portas, dar-lhe dicas de qual é a que se deve abrir, indicar-lhe a rota a seguir, se ela teima em ir pelo caminho errado, se ela teima em não acreditar, se ela dá ouvidos a quem nada sabe, a quem (em cinco, seis anos?) não conseguiu fazê-la sentir-se melhor?
As pessoas a sua volta não podem mais ajudá-la, nada poderá fazê-la sentir-se bem. Nothing. Está tudo errado. Everything. Ela necessita de uma reviravolta em sua vida, necessita de novos ares, novas pessoas, novas sensações e novos amigos....Necessita acima de tudo, dela mesma. Inteira. Sem metades. Ela precisa de inteiros, de eternos, de incondicionais. Não vai encontrar. Não vai melhorar. Não vai se achar. Vai continuar no meio do tiroteio. 12/09/2011

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