30/01/2012

Há agora a iminência de luz e sinto a chuva tocar-me delicadamente, como a me fornecer não só a vida, mas carinho também.
Minha produção fotossintética diminui gradativamente. Necessito de água, mas não clamo. Sou inundada pela existência. O vento, conseqüências das lágrimas que do céu caem, sopra em meu corpo a fria brisa que, de leve, me arrepia.
Preciso de oxigênio, assim como todos. Muda em meu lugar, ouço o som do silêncio constantemente. Portas batendo, conversas paralelas, folhas sendo arrastadas, passos apresados.  Até mesmo as respirações não sincronizadas, já passei a diferenciar.
Reconheço quem vem até mim com afeto, mas não sou capaz de retribuir a meu modo. Meu afeto é sutil e milagroso. Sou um reflexo do meu mundo. Sou um reflexo da minha volta. Sou um reflexo de quem me cuida.
Pessoas que vivem e são pela metade, não vem até mim. Não sou compreendida, exceto pelos inteiros; por quem não teme o próprio medo de existir por inteiro.
Minha vaidade cresce quando sou admirada. Quando ganho colo e sou acolhida minha cor se renova, meu brilho reluz e sinto que existo. Ainda tenho esperanças de que está próximo o dia em que eu e todos os meus semelhantes seremos, devidamente, notados.
Sou o que querem e necessitam que eu seja. Respondo a todos que comigo conversam. Sou o você. Sou o eu. Sou o “nós” que é você. Sou o “nós” que há em você. Em troca do amor devolvo a alma. Somos silenciosos.
O mundo é cheio de pessoas pela metade que não notam nossas semelhanças. Somos tal e qual.
Podemos ouvir os silêncios e ainda assim compreendê-los. Podemos fazer sombra e tapar claridades. Necessitamos de cuidados, de regas, de atenção, que nem sempre pedimos, apenas recebemos, por amor.
Tudo o que ofereço é por gratidão a você que me faz viver. Incessantemente devolvo o que recebo. Não é preciso o grito; por que as pessoas gritam? Basta que ouçam o som do silêncio. Basta serem inteiros, mesmo que instantes.
A chuva cessa e o vento começa a secar meu corpo. Sinto algo em mim. Uma borboleta. Veio dar-me boa noite, pois já é hora de ir dormir. Amanhã outro dia recomeça e o oxigênio que consumo, eu passarei a devolver.
Quando atingir meu ponto fótico não precisarei de ajuda. Consumirei o que eu produzir, na mesma quantidade. É meu momento de liberdade e independência. Depois recomeço meu ciclo de plantinha e reedito o que vejo a cada dia. 25/10/2011

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