04/08/2011


Estava na escola, mais precisamente na sala de aula. Todos estavam lá...ou não, reparando bem, a melhor amiga não estava. Por que será? A falta foi sentida. Muitos falavam sobre ela, mas o que eles estavam falando que ela não conseguia captar com uma freqüência boa para seus ouvidos? Então ela percebeu que não estava mais ali exatamente como todos estavam. Era sua alma quem estava. Mas sim, ela estava ali e podia vê-los. Será que eles acham que ela está morta? Foi subindo as escadas devagar, reparando tudo que estava acontecendo. Os colegas, os risos e em meio a isso um par de olhos fixos nela. Estremeceu e fez um gesto de silêncio para ele, que podia vê-la, como para não avisar que ela estava presente. Em vão. Ele gritou que ela estava ali e, imediatamente, alguns ouviram e saíram correndo. Era medo de um espírito? Na frente da sala estava a outra amiga, sentada no chão, com uma colega. Estavam conversando coisas que ela não entendia; pareciam felizes e sorridentes. Sem saber como, sentiu lágrimas brotando de seus olhos. E soluçava, soluçava intensamente a ponto de não conseguir conter o choro. Outra colega em vinha vindo em sua direção. Ela, então, percebeu que podia ser vista novamente. Essa agora tinha sido sua amiga dês da infância, passaram bons momentos juntas, uns bons 7 anos de suas vidas foram compartilhados uma com a outra, mas o tempo as afastou, trouxe novas amigas, novas pessoas, e elas, não trocavam palavras há um bom tempo. Então sentiu o abraço. Sua amiga de antes a viu chorando e veio abraçá-la, acalmá-la, dizer que existe quem a veja, quem a enxergue. Sorriu, mas ainda assim continuou a chorar. Olhou para os lados e as pessoas tinham voltado para a sala, um outro colega de infância estava olhando para os duas e sorriu, depois continuou a conversar com os amigos. Já era aula de inglês e alguém gritou que ela tinha morrido. A professora fez um gesto de como quem está em uma festa e praticamente gritou “Meus pêsames!” enquanto ria. Novamente sentiu falta da melhor amiga, percebendo que ela realmente não estava lá.  Resolveu descer para o pátio, ver o que mais estava acontecendo. Foi ao banheiro e se olhou no espelho, quase não podia se ver, as lágrimas distorciam a visão. Havia uma menina que parecia ser da quinta série, não conseguiu definir quem era, parou na sua frente ficou a olhá-la. Ela perguntou ainda baixinho se a menina também podia vê-la e obteve como resposta apenas uma afirmação positiva de cabeça. Saindo do banheiro encontrou seu primo, eles se viram e se olharam. Ele a podia ver. Ela o podia ver. Percebeu que ele também estava morto. Como ela. Por que será que não parava de chorar? A amiga de infância veio dar mais um abraço. Já na saída da escola encontrou mais uma velha amiga que estava a observá-la. Sorriu e continuou a andar meio embaraçada. Meio mexida. Meio tudo.
Eles pensam que ela está morta?
Quem podia vê-la tinham sido, quase todos, quem a conhece desde pequena, quem a conheceu antes de se tornar o que é hoje, 14 anos depois. Qual a diferença entre ela antes e depois, antes e agora? Ela mesma diz que antes era mais aberta, mais sorridente, mais extrovertida e sem medos, tudo ao contrário do que ela é hoje. O que isso quer dizer? Que quem a conheceu antes de tudo é quem vê seu verdadeiro eu, é quem a conhece verdadeiramente como ela é? Quem ela é agora não foi reconhecida, então qual será a melhor? A de antes é a melhor. Ela foi reconhecida em seu verdadeiro âmago. Tem-se que colocar as duas, quem ela era antes e quem ela é hoje, numa caixinha, balançar e ver o resultado que vai dar. Talvez seja quem ela esteja procurando, quem ela precisa encontrar pra se achar.
A melhor amiga não estava presente. Vai ver é pra que elas possam aprender a encontrarem outras maneiras para. Tudo que acontecia uma tinha a outra para se apoiar, agora não mais. Terão que buscar outras ajudas, outros modos de continuarem. Vão se acostumar.
Foi um teste que passou. A vida testando o que ela realmente sente, mostrando quem ela tem que ser, mostrando seus medos e dúvidas.

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